Patrinvest, investimentos imobiliários

O impacto do coronavírus sobre os mercados globais deve diminuir até o fim do primeiro semestre. Essa é a aposta do veterano investidor Mark Mobius. “Não acredito que o efeito do surto da doença vai durar tanto, acho que em cerca de três meses os efeitos terão enfraquecido”, disse o sócio-fundador da Mobius Capital Partners, em entrevista ao jornal Valor Econômico.

No Brasil, a Mobius Capital Partners tem posições em Lojas Americanas, Kroton, Iochpe e Fleury. O gestor afirma gostar dos setores de saúde e educação, nos quais poderia até aumentar a alocação. Contudo ressalva que planeja manter a exposição ao país “mais ou menos a mesma”. Mobius, na verdade, pretende aproveitar a forte alta da bolsa em 2019 para “realizar um pouco e reduzir a posição para em torno de 16% do portfólio”. A participação do país na carteira da casa alcançou 18% no ano passado.

Mark Mobius | Foto: Ana Paiva

Conforme Mobius, o sentimento de que o ciclo já avançou muito e de que estamos em um momento maduro da expansão incentiva investidores a realizar lucros em momentos de incertezas. “Concordo com a ideia de que talvez seja interessante realizar lucro em alguns casos. Alguns ativos foram longe e muito rápido, mas nós ainda queremos estar no mercado acionário.”

Para justificar sua visão menos pessimista sobre os impactos da epidemia, Mobius afirma que “em breve teremos notícias sobre desenvolvimento de vacinas e outras ações que podem melhorar o sentimento”. Segundo o gestor, a China pode ter queda entre 0,5 ponto e 1 ponto percentual no resultado de seu PIB neste ano. “Mas o movimento de desaceleração será seguido por uma recuperação. Por isso, nós não pretendemos alterar nossa posição na China, que é de cerca de 20% da nossa carteira de emergentes.”

Mobius também acrescenta que o coronavírus pode levar os bancos centrais globais a agirem para evitar uma desaceleração mais profunda. No caso do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), o gestor considera como cenário mais provável a manutenção dos juros no atual patamar ao longo deste ano.

“O vírus tem sim um impacto na economia americana, mas a situação nos Estados Unidos no momento é muito boa, o desemprego está baixo e novos postos de trabalho têm sido criados em um ritmo forte”, aponta. Mas, caso o impacto da epidemia seja mais forte que o esperado, “o Fed provavelmente vai ter de cortar mais as taxas”.

Na visão do gestor, os países da América Latina serão mais resilientes aos efeitos da doença. No caso do Brasil, Mobius lembra que, apesar do potencial choque da epidemia, o país pode manter um ritmo de crescimento mais acelerado no médio e longo prazos se houver uma melhora do cenário macroeconômico.

“Acho que o Brasil tem de acelerar o programa de privatizações, levar adiante a agenda econômica e focar mais na recuperação do emprego”, explicou. Se o país avançar nessas questões, a bolsa brasileira, “que não está barata, mas também não está cara demais”, vai se tornar mais atrativa aos investidores estrangeiros.

Além disso, pondera, “as taxas de juros globais estão muito baixas e isso é uma vantagem para o Brasil”, que oferece retornos mais atrativos que os mercados mais maduros. O gestor ressalta que a tendência, reforçada pelo coronavírus, é a de que os BCs globais mantenham esse cenário por um bom tempo ainda.

Mobius, assim como a maior parte dos investidores estrangeiros, prefere esperar as incertezas no país se dissiparem. “O Brasil tem muita coisa a fazer em termos de reformas”, diz.

De acordo com o gestor, o governo brasileiro precisa se concentrar em melhorar a situação do emprego. “Isso basicamente implica em simplificar e cortar impostos, aumentar o nível de investimentos, derrubar regulações desnecessárias e outras barreiras que inibem a entrada de capital”, resume. A melhora do mercado de trabalho pode deflagrar um círculo virtuoso, com aumento da confiança e de investimentos, o que ajudaria a acelerar o crescimento da atividade.

A receita, segundo o investidor, é “basicamente a mesma que o [presidente dos Estados Unidos, Donald] Trump tem seguido”. O cenário base de Mobius para as eleições americanas em outubro é de reeleição do republicano, assegurada, justamente, pela taxa de desemprego no menor patamar em 50 anos.

A avaliação do gestor é a de que, em um cenário de reeleição de Trump, os mercados financeiros devem permanecer relativamente estáveis. No entanto, o pleito pode se tornar um evento com potencial de elevar a volatilidade. “No momento, não vejo isso acontecendo.” Mas, reforça, “há ainda mais de sete meses pela frente e tudo pode acontecer”.

Para Mobius, sempre há possibilidade de as eleições ficarem acirradas, dependendo da escolha do candidato Democrata. Nesse cenário, a indefinição das eleições vai acrescentar mais instabilidade aos mercados financeiros a partir do segundo semestre.

Por Valor Econômico
02/03/2020

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